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Os Três Níveis de Seleção

Você sabia que três níveis de seleção influenciam o comportamento humano?

Ao longo da minha experiência clínica, muitas pessoas me procuraram na psicoterapia esperando que eu abordasse todas as questões que trazem sofrimento exclusivamente no nível individual, como se vivêssemos desconectados da cultura em que estamos inseridos e da nossa história como espécie. Há um sentimento generalizado de que estamos sozinhos em nossas vivências, acreditando que nossos sentimentos, pensamentos e ações não fazem sentido para mais ninguém, e que somos os únicos responsáveis por todas as nossas dificuldades. No entanto, as coisas não são bem assim. Por isso, vamos explorar mais sobre filogênese, ontogênese e cultura, e entender como esses três níveis de seleção impactam nosso comportamento.

Filogênese: A Evolução das Espécies

A filogênese refere-se à evolução das espécies ao longo do tempo. Comportamentos são selecionados ao longo de gerações por suas vantagens adaptativas, ou seja, aqueles comportamentos que aumentam as chances de sobrevivência e reprodução são mais prováveis de serem passados para as próximas gerações.

Por exemplo: Você já percebeu como certos medos, como medo de altura, são comuns? Ter medo de locais altos pode ser uma herança evolutiva que ajudou nossos ancestrais a evitar perigos. Ou ainda, você já notou como a tendência a formar laços sociais e viver em grupos é comum entre os seres humanos? Isso pode ser uma herança evolutiva que ajudou nossos ancestrais a sobreviver. Viver em grupos proporcionava proteção contra predadores, maior eficiência na obtenção de alimentos e apoio na criação dos filhos.

Tem um vídeo muito legal no canal do Youtube “Kurzgesagt” que explica a relação da solidão com essa parte evolutiva, recomendo! Clique aqui, caso queira ver.

Agora, para você refletir:

Quais comportamentos, medos ou outras emoções que você tem poderiam ter sido úteis para a sobrevivência da nossa espécie?

Ontogênese: Desenvolvimento ao Longo da Vida

Já a ontogênese refere-se ao desenvolvimento do indivíduo ao longo de sua vida. As experiências e interações com o ambiente impactam os comportamentos. Reforços e punições que ocorrem durante a vida de uma pessoa desempenham um papel crucial na formação dos seus comportamentos.

Por exemplo: Você já percebeu como certas atitudes ou hábitos se formaram com base nas suas experiências de vida, como gostar de leitura porque seus pais liam para você quando era criança? Ou ainda, você já percebeu como o medo de falar em público pode se desenvolver ao longo da vida? Uma pessoa pode ter passado por experiências negativas, como quando outras pessoas a ridicularizaram ou criticaram ao tentar falar em público durante a infância ou adolescência. Essas experiências podem contribuir para o desenvolvimento do comportamento, por exemplo, de evitar situações em que precise falar em público no futuro.

Para refletir:

Quais comportamentos seus foram claramente influenciados pelas experiências e interações que você teve ao longo da vida?

Cultura: Aprendizado Social

Por fim, a cultura refere-se aos comportamentos que os indivíduos aprendem e transmitem socialmente dentro de um grupo. Normas, valores, práticas e tradições culturais passam de geração em geração e influenciam como as pessoas se comportam dentro de uma sociedade. Esse nível de seleção tem um papel muito importante em várias demandas que chegam na psicoterapia.

Por exemplo: Você já notou como certas tradições ou maneiras de se comportar são diferentes em várias partes do mundo, como o jeito de cumprimentar as pessoas ou celebrar feriados? Ou ainda, você já percebeu como diferentes culturas têm maneiras distintas de viver o luto? Em algumas culturas, as pessoas expressam o luto de forma aberta e pública, com cerimônias e rituais prolongados. Em outras, o luto é uma experiência mais privada e silenciosa, sem grandes demonstrações públicas de emoção.

Para refletir:

Quais comportamentos ou tradições você segue que são claramente influenciados pela sua cultura?

A Interação dos Três Níveis de Seleção

Esses três níveis de seleção – filogênese, ontogênese e cultura – interagem continuamente, impactando o comportamento humano de maneiras complexas. Entender essa interação é essencial para compreender como e por que nos comportamos de determinadas maneiras.

Por exemplo: Imagine uma pessoa que deseja muito ter amigos, mas enfrenta dificuldades em formar e manter amizades. Vamos analisar isso através dos três níveis de seleção.

  1. Filogênese: Em termos evolutivos, os seres humanos são naturalmente predispostos a formar laços sociais, pois a cooperação e as relações sociais aumentaram as chances de sobrevivência dos nossos ancestrais. No entanto, algumas características herdadas, como uma maior sensibilidade ao estresse social ou uma tendência à ansiedade, podem dificultar a interação social em alguns indivíduos.
  2. Ontogênese: A história de vida dessa pessoa também desempenha um papel crucial. Se ela teve experiências negativas no passado, como rejeições, bullying ou relações interpessoais conflituosas, pode ter desenvolvido um medo de se aproximar dos outros. Essas experiências podem ter contribuído para o desenvolvimento de comportamentos de evitação social e desconfiança.
  3. Cultura: A cultura em que essa pessoa está inserida também influencia suas habilidades e expectativas sociais. Em algumas culturas, há normas e regras sociais muito específicas sobre como se comportar em grupo e iniciar amizades. Se a pessoa não aprendeu ou não se adaptou bem a essas normas culturais, pode ter mais dificuldade em se relacionar. Além disso, valores culturais que enfatizam a independência excessiva ou a competição podem desincentivar a formação de laços mais próximos.

Para refletir:

Pense em suas próprias dificuldades. Você conseguiria identificar como sua biologia, experiências pessoais e contexto cultural contribuem para essas dificuldades? Como esses três níveis interagem e influenciam seu comportamento?

Finalizando…

Por isso, buscar entender nossas questões na psicoterapia apenas a partir da nossa história de vida individual é insuficiente e reducionista, e pode, às vezes, trazer mais sofrimento. Precisamos ampliar nossa perspectiva de análise e incluir essas outras variáveis, como os níveis de seleção, para obter uma compreensão mais completa e eficaz do nosso comportamento.

E você, já refletiu sobre como uma única ação pode ser influenciada pela sua biologia, suas experiências pessoais e suas tradições culturais? Compartilhe suas ideias nos comentários!

Como ter uma postura menos julgadora

Você se percebe se julgando muito? Ou julgando as outras pessoas? Todos nós, sem exceção, julgamos (os outros, nós mesmos ou nossas experiências). O que muitos não sabem é que é possível praticar uma habilidade que nos leva em outra direção e nos permite ter uma postura menos julgadora. É sobre isso que falarei brevemente por aqui.

Uma forma de praticar uma postura menos julgadora é DESCREVER. Essa habilidade foi muito bem descrita por Marsha Linehan em 2018, no Manual de Treinamento de Habilidades em DBT – material que usei de referência para escrever esse texto e é uma das minhas habilidades preferidas!

Descrever nada mais é do que traduzir as experiências em palavras

Podemos descrever:

  • Os fatos de um evento ou situação
  • As consequências desse evento
  • Nossos sentimentos em resposta a situação

É descrever aquilo que você observa, sem acrescentar que algo é bom ou ruim, maravilhoso ou péssimo, certou ou errado e assim por diante; é reconhecer e rotular cada ação como uma ação, cada sentimento apenas como um sentimento e cada pensamento apenas como pensamento.

Dessa forma, poderia reconhecer “Estou tento um pensamento de que não vou conseguir terminar esse texto“; ou ainda “Estou percebendo um sentimento de tristeza“; ou “Estou observando que você está mexendo no meu computador“.

Uma dica para praticar o descrever é imaginar que você está instruindo alguém a como desenhar algo ou relatando um evento por ligação para alguém que não pode ver a situação acontecendo.

Se você ligar para uma amiga e dizer: “Amiga, você não vai acreditar, estou vendo algo absurdo!” e não falar mais nada, sua amiga não terá informações sobre o que está acontecendo e a conversa provavelmente não continuará (afinal, ela não saberá o que você está julgando como absurdo). Agora, se eu disser: “Amiga, você não vai acreditar, estou vendo uma pessoa batendo na outra no meio da rua“, essa conversa será mais fácil de prosseguir e sua amiga entenderá muito mais o que você está presenciando.

Do mesmo modo, você também pode praticar a descrição dizendo “Quando você faz X, eu sinto [ou penso] Y”, quando estamos falando de efetividade interpessoal. Por exemplo, ao invés de dizer “Você é uma péssima pessoa” poderíamos descrever “Quando você não me responde, eu me sinto frustrada“.

Postura menos julgadora significa que eu concordo ou aprovo as situações?!

Praticar uma postura menos julgadora não significa aprovar ou concordar com as situações que estamos descrevendo. Às vezes, podemos acreditar que ao julgar algo como bom ou ruim, estamos nos posicionando no sentido de aprovar/concordar ou desaprovar/ não concordar com algo. Por exemplo, dizer: “O que Maria fez foi ruim” poderia ser dito como forma de expressar que não concordo ou não aprovo o que ela fez. Todavia, eu poderia desaprovar e ainda assim ter uma postura não julgadora, dizendo: “Senti tristeza quando Maria se atrasou para nosso compromisso“.

Em outras palavras, ao fazer o exercício de descrever e ter uma postura menos julgadora não significa que você aprova a situação ou evento que estava julgando antes como ruim. Na verdade, como vimos, descrever pode ajudar a ser entendida e fica muito mais claro saber o que você aprova ou desaprova e como você se sente.

Então, vamos colocar a mão na massa e praticar o que venho falando sobre postura menos julgadora?! Afinal, só aprendemos um novo repertório se expondo e praticando.

Para praticar: coloque no cronômetro 5 minutos, selecione um objeto que esteja próximo a você para observar e descrever. Tente descrever o máximo possível, como cores, texturas, cheiros, temperatura, sons.

Exemplo: “Estou vendo uma caneca de cerâmica da cor roxa de 200ml; ela é fosca, lisa e tem uma marca de batom vermelho na beirada; está gelada e tem água dentro. Não há cheiro específico“.

O que não podemos descrever

Um aspecto importante que precisamos nos atentar quando falamos sobre observar e descrever é que existem algumas coisas que não podemos observar e, portanto, não são possíveis de serem descritas por nós. O que podemos fazer nesses casos é inferir ou fazer suposições.

Não podemos observar então:

    1. Os pensamentos dos outros
    2. As intenções das outras pessoas
    3. Os sentimentos ou as emoções dos outros

Exemplos de postura menos julgadora

Nos exemplos a seguir, trago a diferença de como seria uma suposição e como seria uma descrição de aspectos que não podemos observar. Perceba que a descrição está voltada para aspectos que eu posso observar, como os fatos, os meus próprios sentimentos e pensamentos.

Não podemos observar então:

1. Os pensamentos dos outros

Suposição: “Você me acha chata”

Descrição: “Eu estou tendo o pensamento de que você me acha chata” – veja que aqui identificamos o nosso pensamento e não o da outra pessoa (que não temos acesso).

2. As intenções das outras pessoas

Suposição: “Você está querendo me irritar”

Descrição: “Quando você demora para me responder, eu me sinto irritada” – aqui identificamos o nosso sentimento e não a intenção da outra pessoa (que não temos acesso).

3. Os sentimentos ou as emoções dos outros

Suposição: “Você está com raiva”

Descrição: “Quando você não me responde, eu penso que você pode estar com raiva, como você está se sentindo?” – aqui descrevemos uma ação da pessoa e um pensamento que temos diante da situação. Ao invés de inferir a emoção do outro, podemos perguntar para verificar como a outra pessoa se sente.

Para ser mais fácil perceber a diferença entre descrever o que de fato podemos observar e o fazer uma suposição, é só recordar das situações que outras pessoas inferiram incorretamente o que você estava pensando ou sentindo. Por exemplo, alguém disse que você estava triste, quando na verdade, você estava com raiva. Ou ainda quando você inferiu algo a respeito de alguém de forma incorreta. Por exemplo, você pensou que alguém estava te achando chato, mas na verdade, quando você perguntou, a pessoa estava achando que você estava com vergonha.

Não é sobre ser bom ou ruim

Válido dizer que inferir e fazer suposições não é algo bom ou ruim em si. Apenas temos que ter cuidado para não confundir uma suposição com a realidade observável por nós. Acreditar que nossas suposições são fatos, pode levar a algumas confusões.

Lembro de uma situação em que conheci uma pessoa e fiz a suposição de que ela não tinha gostado de mim, porque não estava falando muito comigo. Todavia, passado um tempo de convivência, conversando com essa pessoa, descobri que, na verdade, ela tinha gostado de mim, mas não se sentia confortável de puxar muito assunto num primeiro momento. Se eu tivesse acreditado na minha suposição poderia ter me afastado dessa pessoa e deixado de desenvolver um bom vínculo.

Outros pontos importantes

Julgar nossos sentimentos como errados, inadequados, ruins, horríveis, etc., pode ser algo que fazemos e que, às vezes, pode trazer um sofrimento a mais. Em especial, se tentamos eliminar a todo custo o que estamos julgando como ruim. Por exemplo, se eu penso que é ruim sentir tristeza após a morte de alguém e, ao invés de viver o luto, começo a tentar eliminar a tristeza, pode ser que um novo problema apareça depois de um tempo.

Outros pontos importantes quando falamos desse assunto é a aceitação e entrar em contato com sentimentos que podem ser desconfortáveis. Mas tudo isso é tema para outra conversa.

Se tiver dificuldade em fazer os exercícios propostos nesse texto, está tudo bem! Vamos aproveitar e nos acolher, afinal é algo que não estamos muito acostumados e exige prática. E, se tiver necessidade, procure ajude profissional. Deixe aqui nos comentários, já tinha visto essa forma de lidar com julgamentos?

 

Referência: Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente, Marsha M. Linehan (2018)

 

Ficar ou terminar? Eis a questão!

Ficar ou terminar um relacionamento? Creio que muitas pessoas já passaram ou vão passar por esse tipo de conflito em algum momento da vida e está tudo bem. Neste texto, vamos falar um pouco sobre alguns dos motivos pelos quais podemos continuar a nos relacionar com alguém e alguns conflitos que podem surgir na hora de pensar sobre qual caminho tomar em relação a permanecer ou sair de um relacionamento.

É claro, não tem como esgotar o tema em apenas um texto e não é nossa intenção dar uma resposta mágica ou fórmula secreta de como tomar a decisão mais correta que a(o) deixará blindada(o) contra arrependimentos, tristeza, frustrações, isso não existe, ok?! Cada caso é único e precisa ser visto com cuidado, mas esperamos que seja um espaço inicial de reflexão.

O que nos motiva a querer manter uma relação?

Os tópicos a seguir são apresentados individualmente, mas na vida real, uma somatória de fatores acontece ao mesmo tempo.

Um ponto importante: em casos de relacionamentos abusivos há pontos específicos sobre a permanência na relação. Para ler mais sobre essas especificidades há um e-book gratuito sobre este tema. Para acessar, basta clicar aqui.

1

Quando o relacionamento apresenta mais pontos positivos do que negativos.

Toda relação envolve aspectos positivos e negativos, coisas que nos dão prazer e coisas das quais não gostamos e acreditamos que poderiam ser diferentes; todavia, os aspectos positivos e que trazem algum tipo de prazer podem ser preponderantes em relação aos negativos e isso contribui para mantermos o relacionamento.

Por exemplo, você pode ter uma relação que proporciona afeto físico, companheirismo, confiança, diversão, boa comunicação sobre a vida financeira, a possibilidade de diálogo sobre assuntos diversos, mas que tem conflito em apenas um ponto em específico, como quem leva o lixo para fora ou o que vão decidir para comer.

2

Quando as coisas agradáveis ou os pontos positivos que a relação traz são muito importantes para você.

Isso quer dizer que, às vezes, podem ter algumas coisas desagradáveis na relação, mas as agradáveis têm um valor maior ou podem estar relacionadas a coisas mais importantes para você.

Por exemplo, se ter uma relação com companheirismo é um valor importante para alguém, talvez manter uma relação que atenda a esse critério, também signifique conviver com divergências em outros aspectos.

3

Quando permanecer na relação parece indicar mais condições agradáveis e menos condições desagradáveis do que sair.

Às vezes, podemos ter o pensamento de que sair de uma relação irá trazer muito sofrimento ou coisas negativas e podemos tentar nos apegar a qualquer coisa que possa parecer positiva na relação para não ter que enfrentar esses temores. Todavia, é preciso ter cuidado para não permanecer em uma relação apenas pelo medo do que pode acontecer ao sair.

A experiência pode ser bem diferente do que imaginamos. Assim, quando estamos diante de uma decisão é preciso avaliar. Quando as coisas estão bem em um relacionamento geralmente as pessoas se sentem felizes a maior parte do tempo. Caso contrário, é um alerta! Por exemplo, se dentro da relação existe mais angústia do que alegria, pode ser que fora dela as coisas não sejam tão dolorosas assim… São possibilidades!

No final do texto temos algumas perguntas para que você comece a refletir sobre como você está vivendo o relacionamento.

4

Quando as coisas agradáveis ou positivas da relação não são obtidas facilmente fora dela ou quando não temos habilidades para produzi-las fora da relação.

Podemos nos manter em uma relação por receio de que não iremos conseguir tão facilmente as coisas positivas que tínhamos na relação se estivermos fora dela; ou ainda, pode ser que realmente não tenhamos como obter imediatamente essas condições fora da relação. Quando não temos desenvolvidas algumas habilidades, ou não temos autonomia financeira ou outras condições nas quais nos sentimos bem ou confiantes fora da relação, podemos acabar dependendo da pessoa que traz isso (como nos casos de dependência financeira ou emocional) e podemos sentir angústia frente a decisão de terminar e sair da relação.

Aqui também é preciso ter cuidado para não confundir dependência com valorização. Por exemplo, numa relação é interessante ter planos em conjunto, convivência, parcerias, mas também é importante ter planos, objetivos e experiências de maneira individual. Quando há dependência normalmente os contextos e possibilidades ficam sob controle da presença de alguém. Já na valorização, existe o reconhecimento e aproveitamento de pontos positivos do relacionamento, mas também há vida fora dele.

5

Quando há perspectivas de manutenção das condições agradáveis.

Por exemplo, mesmo que exista algum problema, há a possibilidade de entender o que está havendo e negociar em conjunto. Imagine que uma das partes da relação deseja passar mais tempo juntos. Apesar do desconforto existente, existe um diálogo em que ambas as partes podem se colocar, entender o que está ocorrendo e participar de uma negociação. Em linhas gerais, existe o acolhimento e a resolução é mais agradável do que o incômodo anterior.

Agora, imagine um relacionamento em que não há possibilidade de diálogo. Todas as vezes em que a pessoa tenta conversar, acaba virando uma briga sem solução, não importa a maneira que fale. Com o acúmulo de brigas pode ocorrer desmotivação em estar ali.

Resumindo, quando não há perspectiva, podemos nos desmotivar a permanecer na relação.

6

Quando há controle aversivo que impede o término.

Nesse caso, esse controle pode ser por meio de ameaças do parceiro, exigências da família, limitações econômicas, ou ainda pressão social.

O controle pode vir do próprio parceiro(a), dizendo coisas como: “ninguém te amará como eu!”, “se você me deixar, vai perder tudo” ou “ninguém aguenta os seus defeitos!”. São afirmações que não são necessariamente baseadas na realidade, porém, podem causar dificuldade na pessoa que está fragilizada emocionalmente.

Não raro as pessoas dizem “antes só do que mal acompanhado(a)”, mas na prática não é tão simples. Pode ser difícil ter que lidar com colegas dizendo: “não deu certo novamente?” ou com familiares comentando em reuniões: “vai ficar para titia!”. Pode ter forte controle para a pessoa ficar com alguém que não deseja!

7

Quando temos um padrão de seguimento de regras.

Podemos ter mais dificuldade de enxergar a opção de sair de uma relação como uma escolha possível, quando seguimos ou acreditamos em regras sociais muito rígidas, como: “casamento é para sempre” ou “separação significa fracasso” ou “só se ama uma pessoa na vida, se terminar nunca mais amarei ninguém”.

O que produz a indecisão de ficar ou sair?

Antes de prosseguir com a leitura, é importante dizer que estar em conflito sobre sair ou permanecer em um relacionamento não é sinônimo de que você tenha que odiar a outra pessoa ou que o outro seja uma pessoa ruim.

Em alguns casos, a pessoa pode gostar do outro com quem se relaciona, mas avaliar que não quer mais ficar na relação, não é tudo ou nada (oito ou oitenta) e está tudo bem. Dito isso, vamos à alguns pontos de reflexão sobre o que pode contribuir para a indecisão de ficar ou sair de um relacionamento:

1

Quando as consequências das opções de ficar ou sair da relação são, de certa forma, equivalentes em relação a ganhos e perdas.

Por exemplo, escolher sair da relação pode significar terminar com conflitos diários e ter acesso a consequências positivas que não tinha antes (como maior liberdade para tomar suas decisões). Ao mesmo tempo, se escolher ficar na relação, pode continuar com maior estabilidade econômica ou ter filhos mais próximos.

2

Quando há uma probabilidade indefinida de ganhos fora da relação, principalmente os de médio e longo prazo.

Aqui podem aparecer questionamentos como “Irei encontrar alguém depois disso?”, “Conseguirei me reerguer?”, “Meus amigos falam que está difícil, será que vou me arrepender se terminar?”.

Realmente, a insegurança pode aparecer diante do cenário de não sabermos se (e quando) começaremos a nos relacionar novamente.

3

Quando as consequências envolvidas são de grande magnitude: sociais ou econômicas.

Por exemplo, terminar uma relação pode envolver mudança de casa, mudanças sociais, ter que lidar com as reações de outras pessoas, mudanças financeiras. Pode gerar angústia, ansiedade, tristeza, estresse.

Qualquer mudança deve ser considerada de acordo com as possibilidades disponíveis e o tempo de adaptação. Ao começar o relacionamento o cotidiano é alterado. No caso de término, também!

O que produz a indecisão de ficar ou sair?

Diante desse panorama geral do que pode nos motivar a permanecer em um relacionamento e de quais fatores podem gerar indecisão de qual a melhor escolha, podemos tentar responder algumas perguntas para nos ajudar a refletir sobre a nossa própria experiência:

Por que você acha que permanece (ou permaneceu) com essa pessoa? O que lhe motivou durante esse tempo?
Diante dos problemas enfrentados no relacionamento, o que foi feito para mudar?
Independentemente da pessoa com quem você está se relacionando, como seria uma relação ideal para você? Em quais aspectos isso se aproxima do que você tem atualmente? E em quais aspectos se distancia?
O que é tão positivo ou agradável na relação (por exemplo, o sexo, status social, segurança afetiva, condições financeiras)? É importante responder de forma sincera.
E por que é tão positivo ou importante? Por exemplo: se as condições financeiras é o que mais importa, por quais razões isso é tão importante? Como anda sua vida nesse aspecto fora da relação?

O que é tão punitivo ou aversivo na relação (por exemplo: cobranças e reclamações)?
Por que é tão aversivo?
Quais as suas prioridades atuais na vida?

Como seria a vida separados?
Quais as suas perspectivas e estrutura de vida (perspectivas amorosas, financeira, etc.)? Se essas perceptivas forem baixas, busque refletir sobre como trabalhar para que as perspectivas de autonomia sejam melhores para que a escolha de permanecer ou sair da relação seja com base na agradabilidade da relação e não na dependência. Da mesma forma, ampliar perspectivas de pontos positivos fora da relação, visando a independência.

Bom, esperamos que esse tenha sido um espaço inicial de reflexão e que possa servir de base para começar a pensar de forma mais crítica e consciente sobre essa decisão de permanecer/ ficar ou terminar uma relação. Lembrando que nem sempre esse é um processo fácil ou rápido.

Caso esteja enfrentando dificuldades para lidar com essa questão, fique à vontade para entrar em contato.

Sobre as autoras:

Psicóloga Thais S. Mascotti

Psicóloga clínica, graduada em psicologia e Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela UNESP/Bauru. Capacitada em Terapia Online (ITO), com formação em Terapia de Aceitação e Compromisso – ACT/ Paradigma e em Terapia Comportamental Dialética – DBT/ Ello. Realiza atendimento de psicoterapia online e presencial visando proporcionar um espaço seguro de diálogo.

Psicóloga Karina Orzari Nascimento

Formada em psicologia e Mestra pela UNESP – Bauru. Realiza especialização em terapia comportamental pelo ITCR – Campinas e capacitação em terapia online pelo ITO.
Atende adultos, idosos e casais de forma online. Trabalha com supervisão para estudantes e recém formadas em psicologia; ademais, trabalha com serviços educativos como rodas de conversa e palestras.

Agradecimento

Agradeço à psicóloga Karina Nascimento por aceitar o convite para contribuição de ideias para complementar o texto e pela revisão atenciosa! ♥

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