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No texto de hoje

Vamos falar sobre os possíveis impactos emocionais da pandemia de COVID-19 e quais passos podemos dar para cuidar da nossa saúde mental e emocional nesse período de isolamento social e quarentena.

Estamos passando por um momento em que nossas habilidades para lidar com situações de imprevisibilidade e falta de controle estão sendo colocadas à prova.

Eu sei que, às vezes, pode ser muito difícil entrar em contato com sentimentos desconfortáveis e que o nosso impulso pode ser o de tentar evitar a todo custo sentir esse incômodo. Porém, é totalmente normal que momentos de imprevisibilidade e contato com coisas que fogem ao nosso controle, como o que está acontecendo recentemente, causem diversos desses sentimentos desconfortáveis, como medo, estresse, desorganização, desesperança, tristeza, ansiedade, confusão e pânico.

Uma situação estressante atual, por exemplo, pode ser o risco de ser infectado e infectar outros, sobretudo se o modo de transmissão do COVID-19 não estiver 100% claro. Alguns outros medos específicos que podem aparecer neste período são[1]:

  • Medo de adoecer e morrer.
  • Medo de perder meios de subsistência, não poder trabalhar durante isolamento, e ser demitido do trabalho.
  • Sentir-se vulnerável ao proteger os que ama e medo de perdê-los por causa do vírus.
  • Medo de ser separado das pessoas que ama e de cuidadores devido ao regime de quarentena.
  • Sentimentos de desamparo, tédio, solidão e depressão devido ao isolamento.

Se uma situação de crise, como é o caso de uma pandemia, por si só já pode gerar todos esses sentimentos, eles são ainda mais intensificados por não termos estratégias prévias de enfrentamento sobre como passar por uma situação como essa, que é nova para todos nós. Em outras palavras, não passamos por nenhuma situação desse tipo antes, para que soubéssemos exatamente o que fazer.

Se temos a percepção de que nossos recursos são escassos ou inexistentes para lidar com o desconhecido, os sentimentos desconfortáveis podem se acentuar.

Se você está sentindo alguma dessas coisas, saiba que são reações que fazem sentido dentro desse contexto e que a ansiedade, medo ou preocupação vão existir, mesmo. Mas, se estiver em excesso ou se estiver de forma tão intensa a ponto de causar sofrimento, procure ajuda profissional.

Por enquanto, algumas recomendações para cuidar um pouco mais da saúde mental nesse período de crise e isolamento social são

  • Observe o que está sob seu alcance para prevenir e reduzir o risco de infecção e/ou transmissão. Você teve acesso as informações oficiais de prevenção? Busque fonte oficiais para evitar notícias e informações falsas. Da mesma forma, não repasse informações sem conferir a veracidade.
    Algumas fontes que você pode acompanhar:
    Organização Mundial da Saúde (OMS)
    Ministério da Saúde
  • Diminua e limite o tempo destinado a se atualizar e buscar informações – ou seja, evite ficar o dia todo mergulhado em sites de notícias ou acompanhando grupos de whatsapp que falam muito sobre o tema – principalmente se você se percebe excessivamente preocupado e ansioso com a situação. Observe se reservar de um a dois momentos por dia já é o suficiente para se atualizar.
  • Acesso em excesso às notícias pode agravar quadros de ansiedade. Na nossa história como espécie, desde os nossos ancestrais, nós sentimos medo quando estamos diante de um perigo – como um predador – e é uma forma de nos prepararmos para fugir (e não morrer). Agora, imagina que o coronavírus é o “leão” dos dias atuais, e que você está a maior parte do seu dia encarando esse leão… Não tem como não ficar ansioso!
  • Continue dentro do possível, realizando atividades que já estavam em sua rotina, adaptando para o novo contexto. Se não for possível manter sua rotina, crie uma nova! Começando com pequenas coisas, como horário para comer, tomar banho, dormir e acordar.
  • Mantenha contato com pessoas queridas, amigos e/ou familiares. Se fizer sentido para você, aproveite o momento para falar com aquelas pessoas que você não consegue falar normalmente. É importante manter ou estabelecer uma rede de apoio segura, mesmo que virtual. Comunique a pessoas próximas se estiver sentindo tristeza e ansiedade. O ponto é manter afastamento físico e não distanciamento emocional.
  • Vale se perguntar: o que é realmente importante para mim? O que faz mais sentido na minha vida? O que é mais valioso? Cada um vai ter uma (ou algumas) respostas para essa pergunta: desde tempo de qualidade com família e amigos, até crescimento profissional, passando por realização de diferentes projetos, cuidar da saúde física, autocuidado, espiritualidade… E, então, pensar “o que eu posso fazer hoje para chegar um pouco mais perto disso?”
  • Se fizer sentido para você (re)descubrir hobbies e/ou manter atividades de lazer, como ler livros, aprender a tocar um instrumento musical, ouvir música, fazer jardinagem, aprender a cozinha algo diferente, etc, aproveite para fazer. A ideia aqui não é lotar sua rotina com coisas que não fazem sentido, apenas para não ficar desocupado, mas sim fazer atividades que te levam a viver uma vida que você valoriza.
  • Entenda que a ansiedade vai existir mesmo, mas se a coisa apertar, há ferramentas como o aplicativo Lojong, que possuem exercícios de relaxamento e atenção plena. É possível também praticar outros exercícios de relaxamento, como respiração e meditação ou ainda exercício físicos.
  • Se você faz uso de alguma medicação prescrita de uso regular, verifique a disponibilidade e continue fazendo o uso correto.
  • Se você faz acompanhamento psicológico, se possível, mantenha. Caso tenha alguma dificuldade financeira para prosseguir na terapia, você pode expor essa dificuldade para o profissional para conferir o que é possível fazer.
  • Neste momento de isolamento social, o lar pode não ser um local seguro para uma parte das mulheres. Se você tem sofrido qualquer tipo de violência, como física, psicológica ou ameaças – e, principalmente, se não está se sentindo segura em casa – busque informações de acesso à segurança e ajuda!

Ligue 180 – neste número você receberá orientações sobre rede de atendimento, direitos da mulher e legislação.

Mete a colher” – aplicativo que fornece serviços e informações para mulheres.

  • Preste atenção nas suas necessidades e sentimentos.
  • Auxilie, dentro do possível, pessoas em grupos de risco.
  • Pondere o impacto coletivo de suas ações.
  • Aproveite também para relaxar e descansar. Não precisa se cobrar para fazer tudo o que você gostaria – nós fazemos o melhor que podemos.

Compartilhe nos comentários quais dessas ou outras estratégias você tem empregado para lidar com os sentimentos durante essa pandemia.

Caso sinta dificuldade em lidar com tudo isso, procure ajuda profissional.

Autoras:

Psicóloga Thais S. Mascotti

Psicóloga clínica, mestra em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (UNESP) e pesquisadora no Laboratório de Aprendizagem, Desenvolvimento e Saúde (LADS/UNESP). Através da psicoterapia e orientação profissional visa proporcionar um espaço seguro de diálogo e condições para o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens e adultos.

Psicóloga Juliana K. Guazzelli

Formada em Psicologia (UNESP), pós-graduada em Clínica Analítico Comportamental (Centro Paradigma) e cursando formação em Terapia de Aceitação de Compromisso (HC-FMUSP). Trabalha como psicóloga clínica no atendimento de crianças, adolescentes e adultos.

Referências

[1] Guia preliminar – Como lidar com os aspectos psicossociais e de saúde mental referentes ao surto de covid-19. Versão 1.5”, Grupo de Referência IASC sobre Saúde Mental e Apoio Psicossocial em Emergências Humanitárias (março/20).

Ornell, F., Schuch, J. B., Sordi, A. O., & Kessler, F. (2020). “Pandemic fear” and COVID-19: mental health burden and strategies. Braz J Psychiatry.

Sá, S. D., Werlang, B. S. G., & Paranhos, M. E. (2008). Intervenção em crise. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 4( 1).

Guia da OMS sobre cuidados para a saúde mental durante a pandemia

Thaís S. Mascotti

Psicóloga clínica (CRP 06/137999), graduada em psicologia e mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela UNESP/Bauru. Capacitada em Terapia Online. Possui Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e em Terapia Comportamental Dialética (DBT). Visa proporcionar um espaço seguro de diálogo e condições para o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens e adultos.

2 Comments

  • Bruna Almeida disse:

    Texto muito interessante, manter a sanidade mental como mencionado em tempos nunca vivido antes é um desafio, ter mais textos e iniciativas assim é de extrema importância …Parabéns!

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