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Muitas pessoas desejam estabelecer relações mais íntimas, profundas e significativas, mas você sabe o que realmente é intimidade e o que isso envolve? Vamos explorar brevemente o conceito de intimidade e como desenvolvê-la em nossas relações.

O que é Intimidade?

Intimidade envolve vulnerabilidade, ou seja, ser vulnerável em um contexto interpessoal significa compartilhar pensamentos, sentimentos, memórias e vivências, sejam elas agradáveis ou desconfortáveis e, ao fazer isso, nos expomos ao risco de sermos punidos ou julgados. Por exemplo, sou vulnerável quando compartilho com meu parceiro minhas inseguranças sobre o futuro da nossa relação ou quando exponho algumas experiências dolorosas que já vivi.

Gosto da maneira que o autor Thomas Lynch escreve: “We like people who like us, but to be liked we must take the risk of being disliked”. Que numa tradução (que foi a melhor que consegui formular) seria: gostamos de pessoas que gostam de nós, mas para sermos queridos, precisamos correr o risco de não sermos queridos.

Assim, a intimidade envolve uma sequência de momentos como esse, em que nos permitimos ser vulneráveis e, em vez de sermos punidos ou julgados, somos acolhidos e validados pelo outro.

Talvez você já tenha se aberto com alguém no passado e não foi bem acolhido, ou tenha visto outras pessoas serem punidas por compartilhar seus sentimentos. Esses eventos nos ensinam a ser cautelosos ao nos abrir. No entanto, a verdadeira intimidade surge quando encontramos pessoas que nos acolhem em nossa vulnerabilidade, mostrando que podemos ser autênticos sem medo de rejeição ou julgamento.

Esses momentos positivos ajudam a reconstruir a confiança e a fortalecer os laços, permitindo que nos conectemos de maneira mais profunda e significativa.

E o que são relações íntimas?

O relacionamento íntimo é resultado de um acúmulo de momentos de intimidades ao longo do tempo. Assim, uma única interação íntima não define uma relação como íntima também. Por exemplo: contar um segredo para um colega de trabalho uma vez se configura como uma interação íntima, mas não numa relação de intimidade em si.

Em outras palavras, encontrar, construir e manter um relacionamento genuinamente íntimo e mutuamente cuidadoso (não apenas amoroso, mas de amizade também), requer ação ao longo do tempo.

Além disso, requer reciprocidade, ou seja, não basta apenas uma das partes ser vulnerável. E, um ponto importante a ser citado aqui, é que as pessoas variam na quantidade de intimidade que desejam, e isso é normal. Não existe certo ou errado. A questão é que, quando você se relaciona com alguém, é importante entender essa quantidade, pois por exemplo, uma pessoa que precisa de menos intimidade pode começar a se sentir sufocada, enquanto a pessoa que deseja maior intimidade pode se sentir privada. A boa notícia é que, ao reconhecer essas diferenças, já é um primeiro passo para estarmos melhor capacitados para saber como podemos ajudar a melhorar o relacionamento. Além de olharmos para as nossas próprias necessidades e se temos habilidades para nos aproximarmos do outro.

Quando construímos relações intimas seguras, vamos sentir segurança e conforto em ser vulneráveis. Sentimos confiança e uma sensação de relaxamento quando estamos com amigos que são íntimos, por exemplo. Por outro lado, quando temos histórias com muitas punições quando nos colocamos vulneráveis, podemos ter sentimentos de ambivalência ou desconforto ou até mesmo uma aversão e a evitação da vulnerabilidade.

Para Refletir!

  • Com quem você se sente seguro? O que isso pode lhe dizer sobre o relacionamento?
  • Existem diferenças no desejo de intimidade em seu relacionamento? Uma pessoa parece querer mais proximidade do que a outra? Em caso afirmativo, como isso se manifesta? Quem no relacionamento se sente mais satisfeito com o nível de proximidade? Que evidências você usou para responder a isso?
  • Como essa diferença no desejo de intimidade impacta seu relacionamento?
  • Isso já levou a problemas ou mal-entendidos?
  • Você gostaria de mudar algumas das dinâmicas do relacionamento?
  • Se não conseguir responder ou não souber como responder às perguntas anteriores, pergunte: O que isso pode significar? Que passos você precisaria dar para descobrir?

É claro que um relacionamento não é composto apenas de eventos íntimos. Todas as parcerias íntimas possuem uma mistura, às vezes somos acolhidos e outras vezes não. Nós aprendemos quando nossos parceiros ou amigos são mais ou menos receptivos em certos contextos do que em outros e quando teremos mais ou menos oportunidade de sermos ouvidos ou não. Todavia, se a punição se tornar mais provável do que acolhimento, então a probabilidade de dissolução do relacionamento tende a aumentar.

Além disso, nem toda relação deve ou pode ser íntima, isso não significa que não podemos manter uma relação com a pessoa, mas com expectativas reduzidas sobre o grau de proximidade possível.

Níveis de intimidade

Trazendo novamente Thomas Lynch, o autor apresenta uma escala bem legal que mostra alguns níveis de intimidade que podemos usar como referência para um exercício de autoconhecimento.

  • Níveis 1-2 – Falar sobre eventos neutros do dia-a-dia (o tempo, o trânsito, sabor de uma refeição) e /ou expressar opiniões sobre tópicos neutros (o serviço do restaurante ou a cor de um cômodo).
  • Níveis 3-4 – Fazer revelações neutras sobre valores ou objetivos pessoais (política, parentalidade, filosofia) e/ou fazer revelações com emoção sobre tópicos não pessoais (paz mundial) e/ou revelar preferências pessoais socialmente aceitas (“eu amo pedalar”).
  • Níveis 5-6 – Revelar sentimentos privados ou avaliações emocionais de eventos pessoais (sentimentos verdadeiros a respeito de um chefe ou colega de trabalho) e/ou revelar opiniões, avaliação ou preferências com possibilidade de rejeição social (“eu odeio pessoas desorganizadas”).
  • Níveis 7-8 – Revelar opiniões pessoais ou pensamentos sobre a relação (“eu gosto de você”) e/ou revelar sentimentos ou avaliações privadas sobre eventos pessoais altamente emocionais (dar detalhes sobre insatisfação com o casamento) e/ou expressar abertamente (lágrimas, risada desinibida, mais contato visual).
  • Nível 9 – Revelar sentimentos, afeto ou desejo por mais intimidade (“eu quero passar mais tempo com você”) e/ou compartilhar histórias de experiências vergonhosas ou embaraçosas que poderiam causar danos se conhecidas publicamente e/ou estar disposto a ficar altamente vulnerável (compartilhar inseguranças ou fraqueza extremas).
  • Nível 10 – Expressar amor ou sentimentos intensos de cuidado e desejo por uma relação de longo prazo e/ou estar disposto a revelar emoções vulneráveis profundamente arraigadas que pode nunca ter expressado antes e a fazer sacrifícios pessoais sérios pela relação.

Hora da Prática!

Lembre-se de uma conversa que você acredita ter sido íntima, com base no que você leu até aqui; depois responda as questões a seguir:

  • Quanto de informação pessoal eu revelei?
  • Qual nível de intimidade eu acredito que melhor descreve a interação que tive com essa pessoa?
  • A pessoa com quem eu interagi acompanhou meu nível de auto revelação? O que eles especificamente fizeram ou disseram que ajudou a determinar isso?
  • Em quais níveis de intimidade estão a maioria dos meus outros relacionamentos?
  • Quais habilidades eu preciso praticar para aumentar a intimidade em meus relacionamentos?

Como Desenvolver Relações Íntimas

Não se esqueça de que, quando você conhece pouco uma pessoa ou quase nada, as revelações pessoais de nível mais baixo são mais prováveis (por exemplo, falar sobre tempo, trânsito e opiniões emocionais de baixo nível). À medida que você pratica em várias ocasiões com a mesma pessoa, revelações mais íntimas se tornam mais prováveis. Lembre-se de que conhecer alguém leva tempo, e quanto mais você revelar, mais provável será que a pessoa retribua.

A seguir algumas ideias do que podemos observar e fazer para construir relações mais aprofundadas e íntimas.

1. Compartilhar Sentimentos e Pensamentos

Comece compartilhando pequenas coisas do seu dia a dia, sentimentos e pensamentos. Falar sobre o seu dia ou expressar como você se sente em relação a algo específico ajuda a criar intimidade.

2. Ouvir Ativamente

Quando outra pessoa se abre com você, pratique a escuta ativa. Preste atenção genuína, sem interrupções, e mostre que você se importa com o que ela está dizendo.

3. Validar e Acolher

Valide os sentimentos da outra pessoa com afirmações como “Entendo como você se sente” ou “Isso deve ter sido difícil para você”. Acolher o que o outro compartilha cria um ambiente seguro para a vulnerabilidade.

4. Reciprocidade

Intimidade é uma via de mão dupla. À medida que você compartilha e valida os sentimentos dos outros, eles também devem fazer o mesmo por você. Essa troca mútua fortalece a relação.

5. Criar Momentos de Conexão

Dedique tempo para estar presente com as pessoas que você valoriza. Pode ser um jantar, uma caminhada ou uma conversa tranquila. Esses momentos ajudam a fortalecer os laços e criar memórias compartilhadas.

6. Ser Paciente

Desenvolver intimidade leva tempo e paciência. Nem sempre as pessoas estarão dispostas a se abrir de imediato, e tudo bem. Continue mostrando que você está lá para elas de forma consistente.

Conclusão

A intimidade é essencial em qualquer relação, seja em amizades, relacionamentos amorosos ou familiares. Comprometer-se a ser vulnerável, ouvir ativamente, validar sentimentos, passar tempo de qualidade juntos e comunicar-se de forma honesta fortalece os laços emocionais e promove um crescimento pessoal contínuo.

Caso perceba dificuldade em construir relações mais íntimas, a psicoterapia pode ser um espaço seguro para olhar mais para si e entender como podemos ser mais vulneráveis e criar laços mais profundos. Qualquer dúvida, entre em contato.

Referências

Cordova, J. V., & Scott, R. L. (2001). Intimacy: A behavioral interpretation. The Behavior Analyst, 24(1), 75–86. https://doi.org/10.1007/BF03392020

Lynch, T. R. (2018). The Skills Training Manual for Radically Open Dialectical Behavior Therapy: A Clinician’s Guide for Treating Disorders of Overcontrol

Vandenberghe, L., & Pereira, M. B. (2005). O papel da intimidade na relação terapêutica: uma revisão teórica à luz da análise clínica do comportamento. Psicologia: teoria e prática7(1), 127-136. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872005000100010&lng=pt&tlng=pt

Thaís S. Mascotti

Psicóloga clínica (CRP 06/137999), graduada em psicologia e mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela UNESP/Bauru. Capacitada em Terapia Online. Possui Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e em Terapia Comportamental Dialética (DBT). Visa proporcionar um espaço seguro de diálogo e condições para o desenvolvimento pessoal e profissional de jovens e adultos.

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